Num momento em que se assinala o centenário da República, escolhi este livro cujo enredo se passa no início da Primeira República.
Rio das Flores é essencialmente a históriia de uma família – os Ribera Flores – que atravessa três gerações unidas pelo amor à terra (a Herdade de Valmonte, no Alentejo), onde coabitam Maria da Glória, a matriarca que governa a família desde a morte do marido, e os seus dois filhos: Diogo e Pedro.
Através do pensamento político divergente dos dois irmãos e da sua diferente visão do mundo, Miguel Sousa Tavares transporta-nos para uma época - primeira metade do século XX, que assistiu ao aparecimento de regimes autoritários que viriam a precipitar o mundo na catástrofe.
Diogo, um intelectual avesso ao totalitarismo, que resolve mudar radicalmente de vida, deixando a família em Portugal para atravessar o Atlântico e viver no Brasil durante o Estado Novo. Pedro, um conservador, alinhado com o Estado Novo, que adere à causa franquista e luta ao lado dos ditadores na Guerra Civil de Espanha.
Não entrando na polémica se o livro é, ou não, um romance histórico, nele, e através desta família, Miguel de Sousa Tavares narra todas as transformações que o mundo estava vivendo, num tempo trágico ainda próximo de nós.
Arminda Carneiro